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Entrevista - Nilzo Maguila Jr.

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Ele é uma lenda do motocross nacional, orientando e treinando grandes nomes do esporte desde os anos 1980, entre eles o gaúcho Enzo Lopes. Dedicado e perseverante, Maguila faz parte da equipe Belco Racing e continua seu trabalho de levar seus pilotos ao topo das competições. Conversamos com este "guru" do esporte off-road nacional, que fala da sua carreira, competições, pilotos e outros assuntos. Saiba mais sobre o homem que está por trás de grandes vitórias e títulos nacionais nesta entrevista exclusiva e brilhante.


DA – Você está atuando no esporte há muitos anos e gostaríamos de saber como foi o começo da sua carreira no esporte.

MAGUILA – Primeiramente, eu quero agradecer a oportunidade por essa entrevista na Dirt Action e agradecer a você, Celestino, que faz parte da minha vida. Eu comecei nos anos 1980 competindo na motovelocidade e depois migrei para o motocross. Fiz etapas do Hollywood Motocross, do Carioca e do Catarinense de Motocross. Mas, por falta de grana, não pude mais praticar e competir no esporte. Fui pai cedo também, graças a Deus. Tive que escolher e dei preferência para a família. Vale dizer que o meu maior incentivador foi meu irmão, o Nilto Antonio da Silva, que faleceu vítima de um câncer, aos 40 anos. Esse cara me incentivou muito.


Acabei abraçando a profissão de mecânico para continuar no esporte e, depois de um bom tempo nessa profissão, comecei a ensinar alguns pilotos nos anos 80, eu e o o falecido Jorge Balbi pai. E começamos essa história de pré-temporada no Brasil, nós lançamos isso. Acho que criamos as primeiras escolinhas de motocross, eu e Jorge Balbi. Fizemos esse trabalho sempre com a base do esporte, e aqui estou há 42 anos no motocross. E é onde vou ficar, até o último dia da minha vida.


Sabemos que a lista dos pilotos que você treina é imensa, mas dentre eles quais foram os que mais se destacaram no esporte?

É uma pergunta de muita expressão. Trabalhei com muitos pilotos e todos me ajudaram muito, aprendi muito com todos. É uma resposta difícil, mas se eu esquecer de alguns, eles terão de me perdoar, afinal de contas já tenho 60 anos e estou ficando um pouquinho velho. Entre eles, o Eduardo Saçaki, Cássio Garcia, Paulo Stédile, Marlon Olsen, Ismael Maia, Carlinhos Maia, Ricardo Raspa, Rafael Ramos, Pepê Bueno, Swian Zanoni, Wellington Garcia, Enzo Lopes, Rodrigo Borges, Antonio Jorge Balbi Jr., Marcello Leodorico, Wellington Valadares e tantos outros, incluindo o francês David Vuillemin e o costa-riquenho Ernesto Fonseca, que andou com minha moto e foi campeão latino-americano em 1997, em Saquarema (RJ). Em 1996, fiz parte da equipe do Stefan Everts, e ele precisava de um mecânico para ajudar o seu próprio mecânico, e eu estava com ele quando ganhou a etapa do Mundial em Belo Horizonte (MG). A lista é enorme e seriam necessárias muitas páginas para isso, fica difícil. Como disse, foi uma honra trabalhar com todos eles, e aprendi muito com esses talentos nacionais.


Você está trabalhando com o Enzo Lopes nos últimos anos, um dos pilotos brasileiros que têm conquistado grandes resultados internacionais. Como é trabalhar com o Enzo?

Eu e o Enzo estreamos juntos no AMA, e é bem fácil trabalhar com esse menino. Temos respeito e admiração um pelo outro, e isso é o que importa. Estamos sempre juntos, é difícil o dia que a gente não se fala. Agora estamos seguindo para a final do Arena. Graças a Deus, o Enzo conseguiu o alto nível internacionalmente, um piloto dedicado, que respira motocross e vive como poucos o processo. Por isso ele está colhendo todos os frutos, que ele trabalhou desde lá trás.


É uma honra trabalhar com ele, de participar e construir esse piloto que vai ficar na história do motociclismo brasileiro. Me sinto muito honrado em fazer parte disso, e ainda fazendo um pouco com ele. Ele merece tudo de bom que acontece em sua vida.


Na história do esporte off-road nacional temos inúmeros pilotos que decidiram por uma carreira internacional e conquistaram grandes resultados, como o Antonio Jorge Balbi Jr, Enzo Lopes e Bruno Crivilin. Mas ainda não temos um campeão mundial. O que falta para termos um campeão americano ou mundial no futuro?

Acho que não falta muita coisa. Esses que você citou – o Jorge Balbi, o Crivilin e o Enzo – são grandes pilotos. Infelizmente, o Balbi saiu do Brasil tarde, com 25 anos, então foi pedreira para ele, enfrentando desafios bem maiores, mas esse cara é um gigante, fez história. Outro gigante é o Crivilin, por quem tenho grande respeito. Acho que ele também poderia ter saído do país mais cedo.


O Enzo fez isso e chegou num nível alto, podendo até brigar por um título americano na categoria 250 hoje. Mas eu não sei se ele está a fim de pagar o preço. Equipe privada é muito legal, é muito bacana, mas para brigar por um título tem que ter uma equipe oficial, para poder concluir tudo. É muito difícil. É como aqui no Brasil. Infelizmente, o dinheiro fala muito na parte externa da pista. Então, acho que é isso que falta. Mas esses três pilotos fizeram história. E fizeram história pelo Brasil. Eles levantaram a bandeira brasileira, e tenho um imenso respeito por todos.


Outro que poderia ter ido longe foi o Paulo Stédile, nos anos de 1990. Ele decidiu ficar no Brasil, mas tinha todas as condições de fazer uma grande carreira internacional. Ele chegou a ir para a Itália e foi campeão regional nesse país, mas optou por voltar ao Brasil. Isso é um grande erro, porque todo o sonho de um menino aqui é assinar contrato com a Honda, Yamaha, KTM ou Kawasaki para ganhar um dinheirinho e ganhar o que o pai investiu... E quando se cai nisso, já era.


Imagine um menino cujo pai paga para ele andar e daqui a pouco ele tem um bom salário e tudo livre. É como estar no céu. Aí ele não vai querer ir para Europa ou Estados Unidos. Até porque a gente não sabe a condição do pai fora da pista para bancar tudo isso lá. Então, muitos que não foram cedo para o exterior foi por isso. Porque começaram a ganhar um dinheirinho aqui, suficiente para sobreviver, e abriram mão de ganhar um dinheirão lá na frente. Isso é o que acontece, na minha visão.


Quanto mais cedo se lançar numa carreira internacional, mais chances de coroar um brasileiro campeão mundial ou americano. Temos grandes jovens talentos, como o Bernardo Tibúrcio e o Vitor Borba, e está na hora desses caras irem embora; se deixar passar um ou dois anos, vai ficar tarde. As coisas acontecem muito rápido no motocross, que vai se atualizando muito rápido. Acredito que se esses caras forem embora, vai dar fruto. Outro que também tem um talento incrível é o Fábio Santos, um gigante. Claro que ele tem um bom salário, mas isso acaba sendo uma armadilha, com o dinheiro falando mais alto.


Não sabemos como é a vida de um piloto brasileiro, mas tenho certeza que quanto mais cedo os grandes talentos buscarem uma carreira internacional, as chances são enormes. Olha o caso do Diogo Moreira, que carreira brilhante que ele está fazendo! Mas o preço é muito alto, como a saudade da família e ficar longe dos amigos. E muitos não estão dispostos a pagar esse preço.


Penso que as grandes fábricas poderiam fazer um projeto internacional com esses grandes talentos, como a Honda fez anos atrás, com o Swian Zanoni ou com o Wellington Garcia, outro cara gigante, mas que acabou se machucando na primeira prova no Mundial e tudo mudou. Posso afirmar que o piloto brasileiro é um dos mais fáceis de trabalhar, pois se adaptam muito fácil às situações e são guerreiros. Resumindo, quanto mais cedo a gente acelerar esse processo, maiores as chances de termos um campeão americano ou mundial num breve futuro.


Atualmente, você faz parte da equipe Belco Racing. Como é trabalhar com o pessoal e os pilotos da equipe?

A gente fundou a equipe Belco Racing, e trabalhar com o Fernando e o Fabrício é tranquilo. O projeto é fantástico. Não tenho muito o que falar desses caras, são meus amigos há muito tempo e são incríveis. Fiquei também com a função de chefe de equipe, o que é muito tranquilo para mim. Sou bem tranquilo com os pilotos, mas eles têm que trabalhar. Caso isso não aconteça com algum piloto, convidamos ele para sair da equipe, porque o motocross é um esporte muito duro, então é preciso trabalhar sério para conquistar resultados.


Para mim, esse é o esporte mais difícil do mundo. A gente depende do físico, do mental e ainda depende de uma máquina, que pode falhar ou pode não estar boa no dia de corrida. É assim que funciona. Mas eu trato todos os pilotos como um paizão. Para mim, não existe derrota, existem resultados bons e ruins. E a equipe está vindo forte e está fazendo um grande trabalho na base do esporte. No ano passado, a gente fez um campeão na Júnior e na IMS YZ125. E neste ano tudo caminha para conquistarmos três títulos. Então, penso que a equipe nasceu vencedora, porque não é fácil encarar as equipes gigantes. Optamos por não participar na MX2 e MX1, pois decidimos criar campeões nas categorias de base. E também porque o investimento nessas categorias é muito alto para enfrentar uma Honda ou Yamaha.


Os campeonatos brasileiros de off-road mudaram durante esses últimos anos e muitos os consideram os mais fortes da América Latina. Como avalia os campeonatos nacionais? Algo precisa mudar?

Essa é uma pergunta muito boa, e posso dizer que os eventos estão muito bons. O Arena Cross está muito bacana, muito legal, um grande e lindo show. Falta pouquinho para a gente se comparar ao nível dos Estados Unidos. Eles estão fazendo um trabalho excelente, muito profissional, e contam com pessoas que trabalharam anteriormente na CBM, como o “Presuntinho”, “Tucano” e outros, que se juntaram ao Leandro e Carlinhos Romagnolli.


A CBM está fazendo um trabalho muito bacana no motocross. Por exemplo, agora estivemos na pista de Santa Cruz de Capibaribe (PE), que não fica devendo nada ao mundo. É uma pista bem planejada, linda! Fiquei muito emocionado com ela porque sou um defensor da região Nordeste. Foi muito bonito ver o grande trabalho que o Paulo Caramez e o Paquito fizeram nessa etapa, a pista dos sonhos. Parabéns ao Paquito e ao Paulo por construírem essa pista.


A visibilidade do Campeonato Brasileiro de Motocross está muito boa. Na minha opinião, o MXGP, o AMA Motocross e o Brasileiro de Motocross são os três mais fortes campeonatos do mundo. O Brasileiro está muito, muito profissional e hoje temos aqui mecânicos de ponta, que não devem nada a nenhum profissional internacional, seja do Mundial ou do AMA. Os próprios chefes de equipe são muito profissionais, como o Reinaldo, da Honda, o Dino, da Yamaha, e o Gui Kyrillos, da KTM, entre outros. Todos estão realizando um trabalho fantástico, altamente profissional. Torço por eles.


Meu negócio é ali, fazer o meu trabalho e ir para casa feliz, e hoje procuro ajudar as pessoas. Minha competição só vale dentro da pista; fora dela eu procuro colaborar com o trabalho de todos. Respeito todos que estão lá, tenho carinho por todos, e procuro ajudar todos no que eu posso, com conselhos e dicas. Hoje eu tenho uma paixão pela galera do motocross, que procura conhecer e curte o meu passado no esporte, o que eu fiz, o que aprendi nessas minhas andanças pelo mundo. Sou muito feliz no esporte e sou muito grato a todos que me deram oportunidade, e também a Deus, pelo que me proporcionou, de me levar até onde cheguei. É isso!


A presença de pilotos estrangeiros nos campeonatos nacionais tem sido grande nos últimos anos, e muitos conquistaram títulos brasileiros. Qual é a sua opinião sobre a presença de pilotos internacionais nos campeonatos nacionais?

Sou a favor dos pilotos estrangeiros nos campeonatos nacionais, mas eu sempre disse que tem de trazer estrangeiros de primeira linha, como o Dean Wilson e o Mike Alessi, feras do esporte. Não adianta trazer um cara qualquer, tem que ser gente com história lá fora. Hoje temos campeões brasileiros como o português Paulo Alberto e o equatoriano Jetro Salazar. Esses caras são brasileiros, foram criados aqui. O Paulinho chegou aqui novo e tem trabalhado há mais de 12 anos. Então, para mim, eles são brasileiros.


É o que eu brigo muito: tem que trazer cara que vista a camisa e goste e respeite nossos pilotos. Alguns chegam aqui desrespeitando as direções da prova e reclamando de retardatário, até porque um ou outro podem ser retardatários lá fora, entende? E aqui no Brasil querem dar uma de machão, serem o cara sem ter tido sucesso lá fora. Eu trabalhei muito tempo lá fora com o Enzo, e a gente respeita tudo. Somos a favor do regulamento, mas vejo uns caras que vêm pra cá e querem ser mais que nós brasileiros, desrespeitando nossas regras. Tem coisas que eles fazem que não concordo. Então, os nomes que citei são de caras que eu gosto, que vejo ser trabalhadores.


Também a imprensa dá muito destaque a gringo e às vezes se esquecem dos brasileiros. A nossa realidade é outra, mas ao ver pilotos como o Enzo Lopes, o Fábio Santos, o Bernardo Tibúrcio e o Vitor Borba, entre outros, são cartas do mesmo baralho, que encaram os caras de igual para igual.


Temos que respeitar também os nossos pilotos. Sou sim a favor aos gringos, como o Dean Wilson, um cara sensacional, um campeão dentro e fora da pista, um cara que tem respeito por todos. Assim como o Alessi, o Aranda e outros. Observo muito também o comportamento dos caras, como eles nos tratam, e aqui é o Brasil. Nossos pilotos têm talento e poderiam estar brilhando lá fora, como o Fabinho.


Temos que ter pilotos estrangeiros de qualidade e que respeitem nossos atletas. E também os brasileiros devem ter o mesmo salário dos gringos, pois costumamos valorizar a carreira dos estrangeiros e às vezes esquecemos das carreiras dos brasileiros. Resumindo, sou a favor de gringos com qualidade, valorização dos nossos talentos e também que os jovens pilotos partam cedo para uma carreira internacional.


Para finalizar, qual recado que você pode dar aos jovens pilotos que estão buscando uma carreira vencedora no esporte nacional e internacional?

Acredito que os jovens talentos nacionais precisam ir para fora, como o Bernardo Tibúrcio e o Vitor Borba, entre outros. São pilotos que acho ser a hora deles partirem para o mundo. O Pietro Piroli também deveria ir embora, pois está fazendo um trabalho excelente. Tenho que destacar também os pilotos da categoria MXJR, os meninos estão fazendo um trabalho brilhante. Não quero citar nomes, mas esses pilotos têm tudo para uma grande carreira internacional. Claro, se tiverem condições, mandem esses meninos embora.


Na 65cc também tem garotos que têm tudo para se destacarem internacionalmente. E, claro, também na 50cc, categoria que eu adoro, é a minha 450cc. Gosto da molecada, e nessas categorias encontramos a paixão pelo esporte, o amor e a garra. Não tem mais prova na lama adiada, as datas não mudam, e os meninos pedem para correr. Isso mudou há uns dois anos, com esses pilotos enfrentando pistas pesadas, com provas acabando com a metade dos pilotos que largaram. Ninguém desiste, são verdadeiros guerreiros. Diferente de anos anteriores, quando os pais brigavam para não ter corrida na pista pesada. Hoje os meninos pedem para ter a corrida mesmo nessas condições.


Fico feliz ao ver esses garotos correndo e tenho certeza que o Brasil ainda vai ter um campeão internacional, é só a gente fazer o dever de casa correto. O Enzo é um piloto que tem todas as condições de conquistar um título, e foi uma pena o ano que teve a chance dele e um procedimento errado o tirou do campeonato. Mas motocross é assim, nem sempre as coisas acontecem como desejamos.


Foto Lucas Mendes

 
 
 

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