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Entrevista - Emerson Loth


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Ele é um dos destaques do cenário nacional, colecionando oito títulos brasileiros no enduro de regularidade. Mesmo administrando quatro lojas, ele ainda consegue competir e vencer, permanecendo no topo há muitos anos. Na temporada passada, mostrou novamente que continua competitivo e com fome de vitórias e conquistou outro título brasileiro.


O que faz um piloto ficar tanto tempo no topo? O que lhe motiva a continuar buscando títulos depois desses 15 anos competindo no Brasileiro, e com mais de 40 anos? Conversamos recentemente com o Bombadinho, que fala sobre esses e outros assuntos. Vale a pena conferir essa entrevista, pois ele fala abertamente sobre sua vida como piloto e empresário, como vê o Campeonato Brasileiro e muito mais.


DA – Mais um título no Brasileiro de Enduro de Regularidade. Como foi a temporada? Quais foram as maiores dificuldades?

LOTH – Toda a nossa equipe, a Pro Tork KTM Sportbay, é a responsável por tudo isso. Com as pessoas da equipe 100% dedicadas, conquistamos o oitavo título nacional. É um número expressivo, mas tem uma história longa nesses 15 anos competindo no Brasileiro. Não é fácil ganhar um campeonato, acho que todo mundo que faz um campeonato nacional está ali para disputar e vencer. A maior dificuldade na temporada passada foi não ter ido na primeira etapa, no Cerapió. Eu já não tinha mais descarte, então tinha que tomar bastante cuidado para não dar nada errado durante o campeonato. Graças a Deus, deu tudo certo. Então, pela oitava vez somos campeão brasileiro.


Como foi a sua pré-temporada? Mudou alguma coisa?

Minha pré-temporada foi bem tranquila. Na verdade, trabalhei bastante com os negócios e acabei não tendo muito tempo para treinar com a moto, me dediquei pouco se comparado com os últimos anos. Eu não consigo andar tanto de moto, estou mais em cima da moto quando tem prova mesmo.


E como está o campeonato nacional de enduro de regularidade? Ele tem evoluído? Algo precisa mudar?

O Campeonato Brasileiro de Enduro de Regularidade evoluiu bastante nas questões de prova. São sete a oito etapas, em cidades distantes, proporcionando um campeonato muito legal, com diversidade, grande terreno e provas boas. A maioria das provas é sempre bem desenhada. Tem alguns detalhes que a gente precisa melhorar, principalmente no nível técnico de algumas etapas. Um exemplo é a abertura, o Piocerá, uma prova muito longa que praticamente não tem dificuldade técnica. Penso que sempre podemos melhorar e, nesse caso de não ter trilhas técnicas, exigindo nível técnico, a prova pode ser decidida pela sorte.


Para ser bem sincero, a nova diretoria trouxe algumas mudanças negativas. Nós, que andamos na categoria Elite, temos dificuldades ao andar na frente, pois acabamos encontrando porteiras fechadas. Temos solicitado atenção nesse sentido por parte da CBM (Confederação Brasileira de Motociclismo), sendo que tínhamos conseguido isso com o antigo diretor, o Roberto Ito. Mas a nova direção simplesmente tirou isso. Então, quem sofre é o piloto.


Vejo que o campeonato está muito focado em outras coisas e o piloto acaba vindo em último. Esse tipo de coisa tira a segurança da prova para o piloto que larga em primeiro lugar. Isso é uma coisa que eu sempre falo. Eu já bati em porteira, e aconteceu de novo. Cheguei a bater em porteira fechada porque não tem “abre-trilha”, não tem “piloto zero”, e eles não fazem nada. Se o cara pegou uma porteira fechada, simplesmente esse é um problema do piloto. Isso é algo muito negativo, que prejudica muito, e foi alterado no campeonato.


Alguns esportes sofrem com a renovação, com a falta da chegada de jovens pilotos. Isso acontece no enduro de regularidade? Faltam jovens pilotos no campeonato?

A gente sofre também com essa falta de renovação. O enduro de regularidade é uma prova muito complexa. O jovem piloto pode ter velocidade, mas chegar na categoria Elite é uma coisa e ganhar é outra, é preciso experiência na navegação. É complicado. E tem a planilha, que cada um “desenha” de uma forma, embora tenha sido padronizado. Isso é por conta das pessoas que fazem a planilha, que são contratadas em quase todas as provas. 


Durante esses 15 anos que estou fazendo o Campeonato Brasileiro, temos vários casos de pilotos novos chegam, andam muito bem e muito forte, andam rápido, mas acabam não conseguindo ser campeão por conta da falta de experiência de navegação. Todas as categorias são apertadas, não é fácil. A categoria Elite tem trechos diferenciados de trilha e a média de velocidade é um pouco superior. Então, o cara chega na Elite e sente uma diferença muito grande da categoria Graduado, o que às vezes frustrando esses pilotos. Então, um jovem piloto faz o campeonato num ano e depois desiste.


Isso dificulta um pouco a renovação também, mas temos outros problemas, como a primeira prova do campeonato, realizada no Nordeste, uma prova muito cara, que acaba dificultando quem quer fazer o Campeonato Brasileiro. Isso implica na dificuldade da renovação no esporte também.


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O campeonato abriu com o Piocerá, prova que você chegou a liderar e terminou como vice-campeão. O que faltou para ser o vencedor?

É mais ou menos aquilo que falei anteriormente. É uma prova muito instável, você pode ganhar um dia e, no outro, qualquer erro de navegação pode jogar você lá para o décimo lugar. Você pode ficar em último facilmente numa prova como essa. O nível técnico da prova é muito, muito baixo, e qualquer erro na navegação pode leva-lo para as últimas posições, e não tem como tirar essa diferença, pois não tem trilha técnica, não tem trilha com média alta para você conseguir se diferenciar.


Eu estava liderando a prova até o último dia, quando cometi um erro de navegação que me prejudicou muito. Veja o caso do Bruno Crivilin, um dos melhores pilotos do Brasil, que também cometeu um erro de navegação e no último dia ficou em oitavo (e foi o terceiro colocado na geral). Eu fui o nono colocado nesse dia. Então, é uma prova que, se não tiver um nível técnico que diferencia, você não tem onde recuperar o que errou, e simplesmente fica atrás. Essa situação deve ser mudada, deve ter um nível técnico melhor para que haja uma definição melhor de quem vai ganhar ou quem vai perder a prova. Não que o Jomar (Grecco), que venceu a prova, não seja um bom piloto ou não tenha nível técnico para vencer. Mas eu falo que a gente vai muito lá para trás quando comete um erro. Na maioria das outras provas você tem tempo para se recuperar se comete um erro, acaba conseguindo tirar a diferença em alguma trilha, em trechos mais técnicos, e acaba vencendo uma etapa. Existe a chance de recuperação.


Além de piloto, você também é empresário, administrando sua própria loja de motos, e gerencia as concessionárias KTM do grupo Pro Tork. Como consegue conciliar todas as tarefas dessas funções e ainda treinar e competir no campeonato nacional?

Ser empresário no ramo do motociclismo veio por ser piloto. Eu trabalhava em outra área, mas acabei lançando a Bomba Racing, uma loja de motos e equipamentos off-road. Tenho a loja desde 2014. Depois veio a oportunidade de trabalhar com a Sportbay, em 2020, junto com o Marlon (Bonilha, diretor da Pro Tork). São três concessionárias: em Curitiba (PR), Itupeva (SP) e Caxias do Sul (RS). Tenho uma parceria com ele muito boa, faz 15 anos que a gente trabalha junto, somos bem alinhados, e isso facilita bastante o trabalho, apesar da correria.


A Bomba Racing vende bastante motos, pois é reconhecida nacionalmente e vende para o Brasil todo. É bastante corrido, tem muitas coisas para fazer, mas a gente vai conciliando e o treino acaba sendo o terceiro ou o quarto plano. Eu sempre gostei muito de treinar, e tem que ter treinamento para competir no alto nível. Mas não consigo mais treinar, raramente saio para treinar de moto. Isso é muito raro nos dias de semana e nos fins de semana também, já não é mais fácil. No ano passado, fiz somente uma trilha com os amigos. Os treinos estão bem escassos.


Hoje, o meu trabalho é prioridade, com certeza. Minha principal atividade hoje são as lojas. Então, a gente meio que vai se virando, mas faz parte. E uma prova acaba sendo uma extensão do meu trabalho, uma extensão da minha vida, do meu negócio, da venda de moto. Estar tudo interligado facilita.


Você tem o patrocínio da Pro Tork há um longo período. Qual é o segredo dessa parceria durar tanto tempo?

Os anos que eu tenho de patrocínio da Pro não é um privilégio único, não é exclusivo. Existem outros pilotos que também são patrocinados há muitos anos, com uma história longa. Vejo que isso se deve mais à empresa do que ao piloto. É lógico que a empresa vai de acordo com o que o piloto oferece, com o trabalho que o piloto entrega, que vai se construindo. Faz 15 anos que somos parceiros, lógico que toda a história foi sendo construída em conjunto, eu fazendo o meu trabalho fora da empresa e a Pro Tork também. 


E ela sempre fazendo o que prometeu oferecer. Acho que ela sempre fez mais por mim do que estava acordado, o que faz a gente se sentir valorizado. Não conheço outra empresa no Brasil que faz esse tipo de apoio. Não conheço nenhuma outra empresa que mantém o salário do piloto por tanto tempo. O meu contrato atual é o mesmo de quando eu estava no auge. Eu treinava, me dedicava somente à moto, e hoje tenho outras atividades, mas ela mantém o meu contrato igual, e até com alguns diferenciais para melhor, que é renovando para dois ou três anos.


A questão é de caráter, trabalho e história juntos, fazendo as coisas certas, procurando ser fiel com a marca, não pensar que o dinheiro vem em primeiro lugar. Tem muitas coisas que levam a isso, mas depende de todos, não é só do piloto ou só da empresa. Acho que é um conjunto, e tiro o chapéu para a Pro Tork, porque é a única empresa que conheço que mantém um piloto por tanto tempo e com o mesmo salário. Não posso falar se existem outras empresas a nível mundial, mas no Brasil é a única que conheço que faz isso.


O que gosta de fazer além de treinar e competir de moto? Sobra tempo para o lazer?

Realmente, não sobra muito tempo, mas a minha vida é a moto, trabalhar com moto o dia todo. E quando faço alguma coisa com os amigos, ela está relacionada com moto. Então, é muita moto. O meu lazer hoje, o meu hobby, está no sítio que comprei aqui em Curitiba (PR), uns quatro anos atrás, e estou construindo, fazendo umas coisas aqui e ali. É o meu hobby, que me dá tranquilidade e tira o estresse. O meu hobby hoje é ficar com a família e também cuidar dos bichos no sítio (risos). Quando estou em Curitiba, estou sempre lá. Então, quando não ando de moto, normalmente estou cuidando de bichos e fazendo alguma coisa no sítio. Ou abrindo trilha, que é outro dos meus hobbies hoje. Abrir trilha para tirar o estresse.


Ainda é cedo para falar sobre isso, mas o que pretende fazer quando se aposentar das competições? Já estipulou quantos anos ainda vai competir?

Acredito que é cedo falar sobre aposentadoria, tanto que neste ano eu pretendo também competir em outras modalidades. Penso em me dedicar para competir no Brasileiro de Big Trail, o Sportbay Bites. A gente sabe que vai ficando mais limitado, já tenho mais de 40 anos, mas depende bastante da dedicação. Vou ter que achar um pouco mais de tempo para me dedicar mesmo, treinar um pouco mais de moto.


Cheguei a cogitar a aposentadoria, e aí entra mais uma vez a questão da história com a Pro Tork, pois quando comentei isso com o Marlon (Bonilha), meu grande amigo e patrocinador, chegamos a fazer um vídeo. Gravamos com ele várias vezes, acho que umas três, e na última hora o Marlon me pegou e falou: "Tira isso  da cabeça, você está novo, tem que andar de moto, tem que correr. Você não pode parar o que está fazendo, dá para trabalhar e correr. E na mesma semana a gente fez um contrato para mais três anos.


É como disse, a empresa está lá, o piloto já não é mais jovem, tem uma certa idade, tem uma história e pensa em se aposentar. E mais uma vez ele mudou minha cabeça ao falar que não estava na hora de me aposentar. “Você tem que andar o resto da vida de moto”, disse como amigo, sem impor nada. O Marlon nunca me cobrou resultados, nunca me cobrou nada, e me fez entender que realmente que dava para conciliar as atividades e eu segui em frente. Então, depois disso, a minha cabeça mudou bastante e não tenho ideia de quando pensarei falar em aposentadoria. Acho que vou ficar até os 70 anos, apanhando da molecada e querendo andar nas principais categorias (risos).


Depois de muitos anos competindo e conquistando títulos, o que tanto lhe motiva continuar?

Foi como disse, a competição me trouxe muitas coisas boas, viajando por todo o Brasil, competindo e fazendo amigos. É muito gratificante ter tido essa oportunidade e conseguir me manter fazendo isso. Sou um cara muito abençoado nesse meio do esporte, ainda sou. É prazeroso, mas também não é fácil. Uma dificuldade é ficar longe de casa.


Às vezes você está longe da empresa e longe do telefone para resolver as coisas, mas está competindo de moto. Tudo isso são coisas tão agradáveis, que fazem parte. Ao olhar para trás, vejo que a empesa me proporcionou tudo isso, tudo que tenho hoje veio da moto, meus amigos, meus negócios, minha vida. Também conheço gente que é da moto. Então, a minha motivação é essa. A cada viagem que faço, chego lá e todo mundo me trata muito bem, muita gente que tem o prazer de estar lá, a gratificação de estar lá. Depois vem o negócio. E acaba sendo uma extensão do meu negócio, gerando novas oportunidades. Tudo isso me motiva. Espero poder competir mais uns 30 anos, até ter uns 70 anos. Depois eu vou trabalhar no sítio (risos).


Fotos Doni Castilho


 
 
 

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