Entrevista - Bruno Crivilin
- DirtAction
- 9 de jun.
- 6 min de leitura

Ele é uma das lendas do off-road nacional, com uma carreira invejável no Brasileiro de Enduro, brilhante no Mundial de Enduro e agora com novos desafios em 2025. Primeiro, por ter mudado de categoria e motocicleta no Brasileiro de Enduro, e segundo por decidir participar no Brasileiro de Rally. É muita mudança em uma única temporada, mas quem conhece o Crivilin sabe que ele vai ter sucesso nessa nova jornada. E tanto isso é verdade que saiu das primeiras provas como líder dos campeonatos nacionais de enduro e rali.
Já assíduo nas páginas da Dirt Action, não poderíamos deixar de conversar com ele novamente sobre a nova e altamente desafiadora temporada, para sabermos mais do seu início do ano com tantas mudanças.
DA – Nesta temporada você participa em uma nova categoria no Brasileiro de Enduro, a E2, com uma nova motocicleta, a Honda CRF 450RX. Por que decidiu mudar de categoria?
BRUNO – Desde que eu entrei na Honda Racing, em 2019, eu sempre corri de CRF 250RX – e nas minhas corridas no Mundial de Enduro também. Então, eu tinha andado muito pouco de 450. Em alguns treinos eu dava uma voltinha com a moto do (Alex) Salvini, e cheguei a andar uma vez, mas bem pouco. Como a gente decidiu que vou correr o Rally também esse ano, e as motos usadas são as 450RX, foi uma decisão em conjunto mudar de categoria, para usar a mesma moto tanto em uma competição quanto em outra. Sabíamos que esse processo se tornaria um pouco mais desafiador para mim, por estar mudando de cilindrada e me adaptando a uma moto que entrega praticamente o dobro de força da 250, mas eu estou gostando muito.
Outra novidade é que você participa também do Brasileiro de Rally. O que lhe levou a competir em duas modalidades distintas no mesmo ano?
Eu sempre tive essa vontade de participar em duas modalidades, tentei fazer o Brasileiro de Enduro e o Brasileiro de Motocross em 2024, mas acabou não dando certo. A minha ida para o rali já era uma coisa que a gente vinha pensando há algum tempo, só estava esperando o momento certo, e a gente decidiu que essa migração iria ser no ano de 2025. Eu só não queria mudar totalmente para o rali no meu primeiro ano, queria que fosse um ano realmente de estreia, de adaptação, para entender como funciona. Competir em duas modalidades também me ajuda porque eu consigo ter o objetivo maior no enduro, que é continuar sendo o campeão, enquanto estreio no rali, sendo o meu ano de adaptação na modalidade.

Como foi acelerar a 450cc, após sempre competir com a 250cc? A adaptação foi tranquila?
Sempre andei de 250cc, além de um ano que competi de 350cc. Então, a adaptação exige que eu mude um pouco meu estilo de pilotagem. Sou um piloto mais agressivo, tenho a mão um pouco mais pesada, e a 250cc pede isso. Já na 450cc, tenho que aliviar um pouco essa parte. A moto é bem forte e então tenho que ser mais dócil em cima dela. Com a 250cc, tenho que andar "bem correndo", já com a 450cc eu posso andar um pouco mais tranquilo, porque ela tem muita retomada, o que me ajuda em alguns lugares. Basicamente, é isso.
Sabemos que competir com a 450cc exige mais esforço e concentração. Mudou algo na sua preparação física para acelerar essa motocicleta?
Sim, a 450cc exige um pouco mais de força, mais força física mesmo e nem tanto resistência, porque nela a pancada é um pouco mais forte, né? Estando um pouco mais forte fisicamente, com mais músculos, vai ajudar na pilotagem. Então, eu priorizei um pouco mais isso para andar nela.
Mesmo competindo em uma nova categoria e com nova motocicleta, você venceu a primeira etapa do Brasileiro de Enduro. Como foi a estreia? Quais foram as maiores dificuldades?
Eu fui confiante, mas não criei muita expectativa, até porque o Benjamin (Herrera, do Chile) também estava correndo e eu não sabia como é que iria ser, na verdade. Treinei com o (Vinícius) Calafati e o Lucianinho (Rocha), meus companheiros de equipe, e a gente estava andando bem parecido. Realmente eu não sabia o que esperar, mas fiquei muito satisfeito em ter vencido a primeira etapa, um dos dias pelo menos, mas venci o domingo e, então, saí com a liderança. A dificuldade maior que senti foi em lugares mais apertados, digamos mais técnicos, porque a moto de 450cc quer andar muito para a frente, ela quer correr. Então, quando é muito apertado é importante segurar a moto e ainda ser rápido nesses lugares. No geral, foi muito bom, a prova não foi só técnica e travada, também teve trechos rápidos. A moto é muito completa e me faz ganhar em muitos pontos.
Você estreou no Brasileiro de Rally no RN 1500, onde venceu etapas e saiu da prova como líder da categoria principal do campeonato nacional. Como foi a sua primeira participação na modalidade?
Fiz a minha estreia no Brasileiro de Rally há pouco tempo, no Rally RN 1500. Fui sem expectativa nenhuma. Estava confiante de que iria andar rápido, mas não sabia realmente o quão rápido, se seria perto dos primeiros ou mais para trás, e realmente fiquei bem surpreendido. Acho que a navegação do enduro de regularidade me ajudou muito no rali, porque não foi nada tão novo para mim. Foi realmente só entender a velocidade da prova, de como funcionam as coisas no rali, zona de radar, detalhes que eu ainda não tinha visto ou vivenciado. Então, para mim foi realmente surpreendente ter andado praticamente todos os dias nos top 3, exceto o primeiro, porque tomei um penal de cinco minutos, senão teria feito o segundo lugar. Ganhei dois dos quatro dias de prova e saí líder da competição. Fiquei realmente surpreendido com isso tudo. Agora vou treinar mais, manter a cabeça no lugar. Acho que o rali pede isso, exige mais tranquilidade do piloto. E as provas são longas, não adianta se desesperar no primeiro ou no segundo dia. Tudo pode acontecer até o final, então você tem que ir com esperanças até lá.
Qual é sua expectativa neste ano na modalidade?
Eu não esperava ter esse resultado nas primeiras etapas, para ser bem sincero. Sabia que não andaria devagar, mas também não sabia que andaria no ritmo já de cara dos primeiros. A minha expectativa neste ano no rali é realmente participar em todas as etapas, completar todos os dias e adquirir experiência, entender o que pode e o que não pode acontecer, entender onde tenho que ter mais atenção e onde não tenho, entender a reação da moto. É entender tudo isso para no segundo ano eu poder entrar mais forte, realmente com chances de brigar pelo campeonato na geral. Essa é a estratégia. E, se der para andar forte, vencer dias, vencer etapas. Mas o principal objetivo não é esse.
Você tem integrado a equipe brasileira no Six Days. Agora em nova categoria e com nova moto no Brasileiro de Enduro, muda algo na próxima edição do Six Days?
Eu tenho participado sempre do Six Days, sempre que eu posso, sempre que dá certo. Esse ano a competição vai ser na Itália, mas a gente ainda não sabe se vai ou não. Espero que sim, porque é um lugar onde morei por quatro anos e conheço muita gente. E a Itália é a Itália, acho que é o berço do off-road mundial, o berço do Six Days, então torço para que a gente esteja lá, mesmo mudando de categoria, porque provavelmente eu andaria de 450cc. Vamos ver o que será decidido junto com a Seleção Brasileira.
Agora correndo no Brasileiro de Rally, e se mostrando também à vontade na modalidade, existe a intenção de um dia correr no Dakar?
Eu acho que correr no Dakar é um objetivo que eu sempre tive, desde o início da minha entrada na Red Bull. Os planos eram correr o Brasileiro de Enduro e ser campeão nacional, além de competir no Mundial de Enduro. E correr no Dakar sempre foi o objetivo final da minha carreira, participar e tentar ser competitivo. Agora com a minha mudança para o rali, acho que comecei a colocar um pé nessa estrada rumo ao Dakar. Não sei quando, mas estou trabalhando para que isso. Depende de muita coisa para correr lá, então vou devagarzinho. De acordo com a minha adaptação, entendendo a modalidade, a gente vai trabalhando para que esse projeto se realize.
Fotos Kevin Castilho e Brumel Neto/Mundopress
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