Entrevista - Adrien Metge
O piloto francês garantiu a vitória no maior rali das Américas, o Sertões, e fechou a temporada novamente como campeão brasileiro de rally raid, apesar de ter enfrentado um novo oponente nesta temporada, o talentoso americano Mason Klein, campeão do Sertões no ano passado.
Adrien Metge tem sido destaque no cenário nacional desde sua chegada ao Brasil, e nos últimos anos faz parte da equipe Yamaha IMS Rally, acumulando os principais títulos da modalidade, como o Sertões 2021 e 2024 e os Brasileiros de Rally de 2021 a 2024, consecutivamente, sem esquecer os títulos no Europeu de Enduro em 2009, no Francês de Rally em 2013 e o Brasileiro de Enduro em 2014, ou suas cinco participações no Dakar, onde seus melhores resultados foram 11º e 12º lugares.
O currículo desse francês que fala bem o português é realmente incrível. E mesmo enfrentando um novo adversário, o americano Mason Klein, campeão do Sertões no ano passado e que nesta temporada foi contratado pela Honda, Metge manteve sua regularidade e talento, conquistando mais um título no Sertões e sendo campeão brasileiro vencendo todas as provas. Logo após sua conquista do campeonato nacional, conversamos com ele para saber mais sobre a competitiva temporada e o seu futuro no cenário nacional.
DA – Mais uma vitória no Sertões. Como foi esta edição e quais foram suas maiores dificuldades na prova?
METGE – Feliz, muito feliz com mais uma vitória. Esta edição foi bem boa para a nossa equipe, a gente chegou bem pronto para esse rally e a equipe inteira fez um trabalho muito bom. Infelizmente, um dia o Ricardo (Martins) teve problema, mas o resto foi tudo bem para nossa equipe.
A maior dificuldade foi em uma especial que eu estava abrindo a prova, beirando uma cerca de um campo de agricultura e estava tudo gradeado. Cheguei num ponto que tinham dois carros atravessados na pista. Eu estava no lugar certo, mas esses carros estavam no meio, atravessados, e tinham pessoas com camisetas na cor laranja, igual à da organização do rally. De longe eu vi essas pessoas no meio, e quando cheguei mais perto, elas fizeram um movimento para eu parar. Pensei que a organização iria parar a prova. Não sabia, mas talvez devido a um acidente ou alguma coisa assim. Quando cheguei, me falaram que aquele não era o caminho certo, que eu tinha errado. Achando que era um pessoal da organização, fui para outra estrada. E aí, errei. Esse dia foi um pouco mais complicado para mim, mas em todos os outros dias deu tudo certo.
Como se comportou a sua motocicleta no Sertões? Você fez muitas alterações se comparada com o modelo utilizado no ano passado?
Neste ano, a WR450 ficou igual à YZ, que já tinha sido atualizada em 2023 – a WR mudou em 2024. Fizemos as adaptações que o rally exige, colocando mais três tanques de combustível, para ter autonomia suficiente, e torre com aparelho de navegação. Essas coisas, mais escapamento e suspensão. Mas a moto é bem boa original, então a gente só fez esses ajustes e também no mapa. Gostei bastante de andar com ela, me diverti.
Seus adversários mais diretos neste Sertões foram o norte-americano Mason Klein e o argentino Martin Duplessis, ambos da Honda. Como foi competir com eles?
Ambos são fortes competidores, assim como meus companheiros Gabriel (Bruning) e Ricardo também sempre estão na briga, além do “Tomate” (Gabriel Soares, da Honda). Acho que as duas equipes estão com um time forte, cada uma com três pilotos que têm chances de brigar pelos títulos nos rallies do Brasil. O Mason é um cara que já andou na frente no Dakar e isso mostra que aqui no Brasil estamos rápidos também. Fico feliz que a competitividade é alta.
A primeira etapa do Sertões foi cancelada em virtude da queda de uma ponte, deixando o início das disputas para a segunda etapa. Como foi esse começo conturbado da prova? A ansiedade aumentou?
O momento antes de largar sempre é um pouco demorado, principalmente em rally grande como o Sertões. Muitos dias no mesmo lugar da prova sem correr sempre gera ansiedade. Mas isso já aconteceu outras vezes, várias coisas que podem acontecer. Então, foi um dia mais esperando. Ainda bem que a gente tinha o fisioterapeuta (Lucas Costa) acompanhando a equipe, e ele organizou um treino nesse dia para diminuir um pouco a ansiedade. Mas o bom mesmo é quando começamos a acelerar de verdade.
O que achou desta edição do Sertões? Gostou do novo percurso?
Foi uma prova bem rápida e, em geral, não é o que prefiro, gosto mais de especial travada, técnica. Foi bom, mas prefiro quando é mais travado.
O Sertões é uma prova longa e manter a liderança não é uma tarefa fácil. Como foi se manter líder desde o início da prova?
Com certeza, não é fácil. A pressão de liderar o rally é muito grande, mas é isso, todo dia alinhar, tentar esquecer o resultado, se concentrar na pilotagem e na navegação e curtir a pilotagem. Tentar fazer uma ótima pilotagem e uma boa navegação e curtir os lugares maravilhosos que passamos.
Você é novamente o campeão brasileiro de rali. Como foi a temporada?
Fiquei muito feliz com mais um título no Brasil. Foi bom, a temporada foi perfeita. A gente conseguiu ganhar todos os rallies da temporada, então foi muito boa. É resultado de um trabalho de uma equipe inteira, que fez um trabalho muito bom o ano inteiro. Foi perfeito.
Sua parceria com a equipe Yamaha é de longa data. Como é fazer parte dessa grande equipe de rali?
Estou fazendo parte da equipe Yamaha IMS desde 2020. Evoluímos muito juntos, tudo se encaixou muito bem, e desde o começo com quase todos os mesmos integrantes. Há um espírito muito bom na equipe, é uma família. A gente brinca bastante também, o que é muito bom pra esquecer um pouco da prova. E todo mundo está fazendo um trabalho muito bom. Então, estou muito feliz em fazer parte dessa equipe.
Sabemos que na vida de um piloto profissional sobra pouco tempo para o descanso e o lazer. O que costuma fazer quando tem uma folga?
Agora que eu tenho filho, que fez três anos durante o Sertões, é mais família mesmo. Quando tenho um tempo sobrando, aproveito para ficar com a família, para compartilharmos mais momentos.
Sabemos que ainda é cedo, mas já tem planos para 2025?
Vai continuar igual. No ano passado eu renovei o contrato com a Yamaha para dois anos, então no que vem estarei de volta para mais uma temporada.
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