O jovem piloto capixaba vem participando do Mundial de Enduro há quatro temporadas, depois de acumular diversos títulos nacionais. Neste ano ele fez de tudo: competiu no Mundial e no Português de Enduro, correu no Brasileiro de Enduro, participou em duas tradicionais provas nacionais, o Ibitipoca e o Enduro de Independência, participou no Honda RedRider Sertões e, fechando o ano, competiu no Six Days of Enduro.
Ufa, até cansei ao comentar a sua intensa temporada, com mais de 20 corridas no ano. Realmente foi uma maratona onde ele conquistou resultados incríveis, como o título do Português em sua categoria, a vitória no Ibitipoca e a sétima posição no Mundial.
Sobrou tempo para ele respirar? Brincadeiras à parte, é indiscutível que a temporada 2023 foi intensa e maluca para Crivilin, que sempre se mostrou disposto e preparado para as atividades, apesar dessa "correria". E tive a oportunidade de comprovar isso pessoalmente, quando acompanhei uma das suas etapas no Mundial e, apesar da sua agenda lotada, notei que ele sempre estava disposto e feliz com tudo, nunca reclamando. Pelo contrário, se mostrava sempre pronto para encarar os desafios da sua carreira internacional e nacional. Um piloto que trabalha arduamente e alcançou certamente um lugar privilegiado no disputado mundo das competições.
Batemos um papo com este grande nome do esporte, guerreiro por natureza, carismático e simples, que tem encarado os maiores desafios do esporte com determinação, responsabilidade e muito amor pelo que faz.
DA – Mais uma temporada no Mundial de Enduro. Como foi a competição?
BRUNO – Sim, mais um ano no Mundial de Enduro, uma temporada, digamos, bem longa e muito disputada. Dos quatro anos em que estive disputando o Mundial, este foi o ano mais competitivo, o ano que teve mais pilotos, e com um nível muito forte. Foi um ano duro, mas também um ano de muito aprendizado. Eu estive praticamente em top 10 em todas as etapas da minha categoria. Disputando ali, segundo por segundo, foi isso. Fico feliz de ter feito mais uma temporada sem perder nenhuma etapa, fui em todas e não me machuquei, com exceção de um dia na Itália, que tomei uma queda muito forte e tive de abandonar o dia. Mas no restante, em todas as outras etapas, eu terminei bem. Devido ao nível deste ano, que estava muito alto, começamos com o objetivo de terminar em top 10, mas consegui ter uma boa evolução nas etapas finais e finalizei na sétima colocação, um resultado muito bom, principalmente olhando os pilotos que ficaram à frente e os que ficaram atrás, pilotos de alto nível, inclusive campeões mundiais.
Qual foi a etapa mais dura?
A etapa mais dura deste ano, não em termos de dificuldade física, mas em condições mais exigentes para mim, muito difícil de andar, foi na Finlândia. Foi a minha primeira vez no país, em um terreno bem particular, condições muito novas pra mim. Tive bastante dificuldade até me entender e pegar o jeito. Tanto que muitos pilotos vão pra lá ou para a Suécia umas duas semanas antes, porque o tipo de terreno que a gente encara lá é bem diferente do que normalmente a gente encontra na Itália, Espanha e outros países. Além da prova ter sido muito dura, tive bastante dificuldade de andar rápido naquelas condições, com muitas raízes e pedras escorregadias o tempo inteiro. Mas foi um aprendizado enorme ter passado aquela semana de competição, e agora estou pronto se tiver uma nova etapa por lá (risos).
Neste ano você estreou em nova equipe. Como foi essa parceria?
Este ano eu troquei de equipe. Nos meus três primeiros anos no Mundial, fui piloto da S2 Motorsport, a equipe do Alex Salvini. Em 2023, tive o suporte da Honda RedMoto, que é a equipe oficial da Honda no Mundial de Enduro, chefiada pelo Matteo Boffelli, e juntos dos pilotos oficiais. Me dei muito bem, a equipe me proporcionou tudo do bom e do melhor, tanto com os testes das motos quanto com a parte de treinos, ficando com a equipe oficial lá em San Pellegrino (Itália), uma cidade perto de Bérgamo, onde fica a sede da equipe. Fiquei muito feliz de ter feito a temporada com eles, me dei muito bem com todos. Foi um ano que aprendi bastante.
Você passou a maior parte do tempo na Europa, vivendo na Itália. Como é viver nesse continente e longe da família?
Então, nestas minhas temporadas na Europa, vivi a maior parte do tempo na Itália, morava perto de Bolonha. Primeiro em Monterenzio e depois em Quinzano, pequenas vilas no interior, cerca de 30 km de Bolonha. Só quando tinha alguma folga ou quando acabava a temporada do Mundial que eu voltava para o Brasil. É uma experiência única, aprender uma cultura e uma língua diferente, estar com pessoas diferentes e conviver no meio dos melhores do meu esporte. Isso, para mim, foi de maior relevância, e disputando os campeonatos mais fortes do mundo.
Sou muito apegado à minha família no Brasil, e a distância dificultou um pouco para mim. É bem difícil passar sete ou oito meses longe, sem visitar os familiares, sem estar em casa. Mas sei que preciso passar por isso, sei que tenho de abrir mão nessa fase da minha vida, ficando longe deles. Tudo tem valido a pena. Senti um pouquinho de dificuldade em lidar com isso algumas vezes, por outro lado isso me tornou mais forte também.
Quais foram as principais alterações realizadas na sua motocicleta Honda para esta temporada? A moto no Brasil é muito diferente da que usa no Mundial?
Bom, a minha Honda do Mundial sempre teve algumas coisas diferentes da minha moto no Brasil, porque lá eles têm muito mais recursos, sabem muito no que trabalhar na moto. Os quatro anos que corri no Mundial foram com a Honda CRF 250RX, uma moto que eu estou bem adaptado. Com o tempo, procurei trazer isso para o Brasil, ajudar meus companheiros em relação à alguma performance que melhore a base da moto original. A gente depende muito de performance, mas sempre busquei não mudar muito, apenas mudando itens que fizessem bastante diferença, como o escape, ajuste de mapa, algum ajuste de ciclística, embreagem hidráulica, offset... São vários detalhes que vão ajudando muito na performance da moto.
Você é o campeão português de enduro de 2023. Como foi essa nova experiência?
Neste ano eu optei por correr o Campeonato Português após receber um convite da Honda Lousãmotos, que é a importadora da RedMoto em Portugal, através do Antônio Henriques, o “Tó”, que foi meu chefe de equipe lá. Foi uma experiência muito boa, os portugueses me acolheram muito bem, me senti muito em casa, também por causa da língua e da comida. A minha ida a Portugal praticamente todos os meses me dava um pouco disso. Fiquei muito feliz em ter vencido a minha categoria, em ter me tornado campeão português, em ter disputado a Geral em todas as provas, ter vencido provas e etapas. Foi bem gratificante ter esse título internacional no meu currículo.
Além do Mundial e do Português, você também competiu em provas brasileiras, como o Ibitipoca e o Independência e algumas etapas do Brasileiro de Enduro. Como foi competir novamente no Brasil?
Tive um tempo pra vir ao Brasil, durante a pausa no meio do ano do calendário europeu. Vim pra descansar um pouco, mas acabei competindo quase todos os finais de semana que estive no Brasil. Participei em duas etapas do Brasileiro de Enduro e, agora no final do ano, de mais uma. Venci todas as três provas e fiquei muito feliz em poder competir de novo em meu país, em estar com a equipe do Brasil, onde são todos muito amigos, minha família. E ter vencido com a Honda também foi bem importante pra mim. Ainda disputei duas provas de enduro de regularidade, o Ibitipoca Off Road e o Enduro da Independência. O Ibitipoca eu venci pela primeira vez – corri duas vezes e venci uma. No Enduro da Independência eu fui vice-campeão, uma prova que foi muito disputada. O resultado foi bem significante, por ser uma modalidade que praticamente nunca ando e por disputar na principal categoria sendo competitivo. Foi bem legal. Lógico que eu queria ter vencido, fui com muita vontade de vencer, e ainda desejo vencer essa prova. Foi bom, foi muito bom mesmo ter passado esse tempo no Brasil, ter competido, ter revisto vários amigos. Para mim é o que me motiva. Competir, vencer e disputar são muito importantes.
Como foi conciliar essa agenda apertada e lotada de provas? Deu para respirar?
Eu lidei bem com essa agenda, com as corridas e tudo, até a metade do ano. Depois acabou ficando um pouco pesado, eu quase não tinha tempo pra treinar. Todo final de semana eu estava correndo em algum lugar, e a gente tem que ir muito antes para as corridas de enduro. A gente viaja na terça-feira, pra já estar na cidade da corrida na quarta. Portanto, eu quase nunca tinha tempo pra treinar e melhorar algumas coisas que precisava. Também não tinha tempo pra descansar. Corridas de enduro cansam muito, a gente tem provas de sete a oito horas por dia na moto e depois a gente precisa de um bom tempo de recuperação. Então, normalmente eu estava voltando de uma viagem e já entrando em outra. Mas eu gostei de ter feito o ano assim, foi uma experiência nova, nunca tinha feito tantas corridas em uma temporada. No total, terei 21 finais de semana de corrida no ano, bastante coisa para um piloto de enduro, com provas tão longas. Foi isso, uma experiência nova, e sempre me entreguei ao máximo em todas elas. Venci algumas e outras não, algumas foi de muito aprendizado. Foi um ano legal, mas me deixou bem cansado.
No Sertões, você acompanhou a expedição da Honda com uma Africa Twin. Como foi essa experiência?
Eu tive o convite da Honda RedRider para o Sertões, que é um programa da Honda com a Africa Twin em expedições e passeios por vários lugares. A expedição do Sertões foi incrível, foi realmente uma experiência única. Eu fui bem animado para a expedição porque seria uma coisa nova, seria uma presença no rali – até então eu nunca tinha visto de perto uma corrida de rali. Foi minha primeira vez acompanhando, e a expedição me surpreendeu em todos os quesitos. Para quem não fez e tem curiosidade, vale muito a pena. E não só o Sertões, mas todos as outras expedições que tem ao redor do Brasil e até algumas pelo mundo. Foi realmente incrível, me diverti muito. A Africa Twin também me surpreendeu. Não imaginava que uma moto grande e mais pesada passasse tanta confiança e tivesse tanta estabilidade na terra. Foi isso que senti com a Africa Twin. Não posso dizer que pilotei como com a minha CRF 250RX, pela diferença de peso e potência, mas posso falar que foi mais fácil com a Africa Twin do que com a minha moto de corrida, de tanto que essa moto é incrível. Fiquei muito feliz mesmo, espero voltar e fazer outras expedições RedRider, por outros lugares. Foi muito gratificante e, lógico, tive a experiência de ter vivido o rali dos Sertões também. Que evento!
Neste ano, a Honda novamente apoiou você e o Eric Granado em campeonatos internacionais. Após tantos anos competindo no Mundial, como avalia esse projeto da Honda?
A Honda abraçou esses projetos internacionais de uma forma bem interessante, bem legal, por acreditar no nosso potencial – meu e do Eric – internacionalmente também. Tenho muito orgulho de carregar essa marca comigo. A gente sabe que a Honda tem as equipes oficiais pelo mundo, mas a Honda do Brasil acreditou no nosso sonho, no nosso potencial. A Honda do Brasil acreditou e investiu na gente lá fora também, não só aqui no Brasil. Então, temos que parabenizá-la! Não só eu, todos temos que parabenizar uma empresa por estar apoiando esse projeto. Foram quatro anos comigo e não sei quantos com o Eric. Está sendo incrível! Uma marca acreditar no talento brasileiro, no potencial do piloto brasileiro, e fazer acontecer do jeito que fez. É excepcional o que eles estão fazendo com a gente e pelo esporte brasileiro.
Com o fim da temporada, como estão as negociações para 2024? Vai continuar no Mundial?
As negociações para 2024 estão a todo vapor e posso adiantar que virá muitas coisas interessantes. Eu ainda quero correr o Mundial de Enduro, mas não tenho certeza de como vai ser, ainda estamos conversando. Pode ser que eu continue, pode ser que não, mas sou muito feliz e contente, por causa desses últimos anos que participei no Mundial, que corri lá fora. Ainda quero melhorar meus resultados, ainda quero brigar pelo título mundial, mas o que tiver de ser vai ser. Tenho certeza que o que a gente decidir será a melhor escolha, que vou dar o meu melhor, sempre, para continuar essa história com a Honda, seja aqui no Brasil ou pelo mundo afora.
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